No Natal do ano passado, sabendo que Samuel poderia morrer a qualquer momento, eu me arrumei bem bonita, com o meu melhor vestido, arrumei o cabelo e fui, com minha mãe e Chico, pra casa de minha tia. No início do dia minha mãe não queria fazer nada - queria se afundar no vazio do Natal. Eu a convenci e fomos todos. Era o primeiro Natal sem vovó e o único com Samuel.
Dos oito filhos de vovó estavam apenas minha mãe, tia Nê e tia Lica. Tia Lica estava com a camisa da missa e sétimo dia de vovó.
Passamos a noite alí, sentados no sofá, esperando a meia-noite. Minhas tias me elogiaram; disseram que eu estava bonita. Certamente tentando tirar o foco do olhar mais triste que eu poderia ter.
Chico me deu uma corrente de prata com asas de anjo e o nome do nosso filho gravado. Eu me emocionei e quem conseguiu ter curiosidade se emocionou também.
Pouco depois da meia-noite saímos da casa da minha tia e fomos pra casa da minha sogra. Ela estava sozinha e se apressou eu esquentar alguma coisa para comermos.
Foi o Natal mais vazio que já vivi. Lembranças do meu pai, perdida sem a minha vó e com todas as emoções possíveis com Samuel, ainda mexendo e me fazendo ser mãe.
Ainda não tenho nenhum pisca-pisca na minha casa. Parece que as coisas perderam o sentido.
Vem, meu Deus, no Teu natal. Nasce novamente em minha vida.